A definição escolar é conhecida: crônica é um gênero ligeiro na fronteira entre literatura e jornalismo. Prefere os temas cotidianos e, via de regra, o cronista entra no texto para narrar algo que observou.
Há também a elegante reflexão oferecida pelo magnífico professor Antonio Candido. Ele diz que a crônica é um texto ao rés do chão. Ela olha o mundo de baixo para cima, do menor para o maior. Bingo para o professor!
No entanto, toda a tradição da crônica considera o meio impresso. É aquela publicada em jornais e, algumas vezes, reunidas em livro. Mas se concordamos com Marshall McLuhan (1911-1980) ao concluir que o meio é a mensagem, existiria uma novidade na paisagem: a crônica postada na internet.
Webcrônica, para darmos um nome. Por exemplo, 90% do que redijo neste blog Mente Aberta é crônica. Outros 10% são textos indefinidos. Meio matéria, meio comentário, meio microensaio. Isso não me incomoda. Vivemos em cheio uma época de miscelâneas.
Parece claro que a crônica escrita para a web formará sua própria e futura tradição. Criar tradições faz parte da história humana. O que há de diferente em escrever na internet? De cara, duas observações.
Primeira, o cronista ou a cronista tem menos status. Porque na rede todo mundo é um pouco autor, mesmo quando é um mau escritor. Verdade também que para ser cronista é preciso um tanto de arte. Da velha arte de tecer parágrafos e fisgar o leitor.
Segunda observação, qualquer leitor pode comentar o que acabou de ler. Ter a crônica e os comentários postados no mesmo espaço e tempo é uma tremenda novidade. Dessas capazes de, com o passar das primaveras, transformar completamente o gênero.
Ou seja, nos meios digitais estamos vivendo uma mudança na dupla escritor-leitor. Mudança que poderá influenciar toda a literatura vindoura. Não é bem o papel de um e de outro que se transforma, mas sim como eles se relacionam.
Mais forte ainda. O leitor-comentarista influencia o trabalho do escritor. O cronista de jornal espera semanas, meses, até anos, para descobrir o que o seu leitor pensa. Já o webcronista recebe a impressão do leitor na lata. Isso é ou não é digno de reflexão?
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