Situação do historiador
Os historiadores gregos não obtinham nenhum benefício social do seu trabalho. A maioria eram expatriados ou exilados, como por exemplo Tucídides de Atenas ou Heródoto de Halicarnasso, o qual contrasta com a posição dos historiadores romanos, que faziam parte da elite dominante. Contudo, esta situação dava maior liberdade de crítica aos autores gregos, dando-se poucos casos de perseguições. O mais conhecido é o de Calístenes, que foi mandado executar por conjurar contra Alexandre o Grande. Dentro da própria historiografia era considerado de menor importância a antiquaria, que fazia referência ao estudo dos tempos remotos.Quanto à transmissão da sua obra, até o século V a.C. ao público atraia-lhe mediante recitais de leitura. Este costume decaiu após Tucídides, que considerava que a sua obra estava feita para permanecer no futuro. As leituras voltaram a tornar-se comuns no período helenístico como uma forma de apresentação da obra. Adicionalmente, eram uma forma de conseguir um sustento econômico pelo trabalho historiográfico. Nessa época não existiam livros como atualmente, escrevendo-se sobre papiro que se armazenava em rolos. A leitura era difícil pois não se marcavam nem os começos de capítulo nem parágrafos e, em geral, não havia separação entre as palavras. Como cada obra era copiada à mão, não existia uma grande disponibilidade dos textos historiográficos. sabe-se da existência de algumas lojas de livros, mas eram pequenos negócios familiares sem escala comercial. A historiografia grega nasce no século V a.C. da mão de Heródoto. Para alguns autores, trata-se de um nascimento tardio pelo maior peso do mito e da falta de interesse por descobrir umas origens mais racionais. Antes já havia textos de caráter histórico, mas segundo Bravo, entre outros, não são fontes historiográficas ao carecer de espírito crítico. Para Burrow, estas primeiras descrições históricas focavam-se em histórias locais sobre as suas supostas origens. Schrader determina três elementos básicos e definidores da historiografia grega:
O mito e a literatura arcaica. A história primitiva arcaica era constituída pelos relatos lendários, sendo Homero o maior expoente desse período. Embora se recuse que seja um "primeiro historiador", alguns autores consideram-no o "possibilitador" da historiografia posterior. Outros reduzem a sua importância, considerando-o o precursor da cronografia e de que nele nasce a concepção de sucessão cronológica. A presença do mito apenas começou a reduzir-se com Hecateu de Mileto ao constatar a longa história oriental comparado com a história grega. O afã explorador e investigador que daria origem aos périplos.
O nascimento de uma concepção racional do mundo que levou por um lado ao surgimento de uma geografia representativa ou cartográfica. Por outro lado, possibilitou a substituição do mito por esquemas racionais, surgindo os logógrafos. Adicionalmente, ajudou ao nascimento da historiografia uma necessidade de afirmação pessoal, criando genealogias que rastreavam os antepassados das famílias. Entre os logógrafos destacaram-se Cadmo de Mileto, Helânico de Lesbos e especialmente Hecateu de Mileto. Além disso, foram realizados anais rudimentares, como a relação cronológica dos vencedores dos jogos olímpicos realizada por Hípias. Outros autores assinalam como fundamental para o nascimento da historiografia grega a influência oriental. O contato com o império persa torna os gregos cientes do que os rodeia e da sua herança cultural, sendo um estímulo para contar a sua história. Portanto, fica num segundo grau a importância de uma consciência nacional para o surgimento da historiografia.
O nascimento de uma concepção racional do mundo que levou por um lado ao surgimento de uma geografia representativa ou cartográfica. Por outro lado, possibilitou a substituição do mito por esquemas racionais, surgindo os logógrafos. Adicionalmente, ajudou ao nascimento da historiografia uma necessidade de afirmação pessoal, criando genealogias que rastreavam os antepassados das famílias. Entre os logógrafos destacaram-se Cadmo de Mileto, Helânico de Lesbos e especialmente Hecateu de Mileto. Além disso, foram realizados anais rudimentares, como a relação cronológica dos vencedores dos jogos olímpicos realizada por Hípias. Outros autores assinalam como fundamental para o nascimento da historiografia grega a influência oriental. O contato com o império persa torna os gregos cientes do que os rodeia e da sua herança cultural, sendo um estímulo para contar a sua história. Portanto, fica num segundo grau a importância de uma consciência nacional para o surgimento da historiografia.
Heródoto
Foi considerado pelos seus sucessores tanto o "pai da história" como o "maior embusteiro". Atualmente está melhor considerado e, embora com ressalvas, é considerado fiável. Os seus críticos na antiguidade acreditavam-no amigo dos bárbaros, considerando os seus escritos histórias interessantes, mas alheias à verdade.
Heródoto nasceu entre 490 e 480 a.C., numa família de notáveis de Halicarnasso. Implicado numa conjura, teve de exilar-se, marchando primeiro à ilha de Samos e posteriormente a percorrer o mundo conhecido, ficando refletida essa peregrinação na sua obra. O lugar da sua morte, acontecida em 425 a.C., não é seguro, embora na Suda se fixe em Túrios.
Há uma série de características que tornam Heródoto em algo novo, diferente a todo o anterior: trata-se de um autor pessoal claramente definido e não conta nenhuma história narrada por musas, mas o resultado de uma pesquisa. Além disso, a sua obra narra os acontecimentos do homem; os deuses deixam de ter cabimento na historiografia, pelo menos direta ou pessoalmente. Para Schrader, a obra de Heródoto é integrada por uma História de Lídia, uma História de Pérsia e uma História das Guerras Médicas. A sua História, dividida em nove livros na biblioteca de Alexandria, articulava-se segundo um critério ternário. Assim mesmo, cada passagem articula-se em três partes: uma introdução, uma digressão e a narração do episódio de que se trate podendo haver digressões adicionais em algumas partes. A própria pesquisa de Heródoto tinha um critério ternário.
A História basea-se principalmente nas fontes orais e em caso de obter diferentes versões, expunha as que mais fundamento tinham para que cada um escolhesse. Quanto às fontes escritas, destacaram-se pelo seu uso três grupos: 1)os dados aportados por poetas; 2) as inscrições, listas oficiais e administrativas, bem como oráculos; 3) as informações de logógrafos e literatura da sua época. O desconhecimento da língua de algumas inscrições e listas oficiais fazia que ocasionalmente Heródoto cometesse erros na sua interpretação por uma má tradução. Enquanto a influências de autores anteriores, a crítica distingue cerca de trinta passagens baseadas em Hecateu de Mileto.Na sua obra destacam-se também as suas descrições geográficas e etnográficas, em maior parte fruto da sua própria experiência como viajante.
Outros historiadores menoresAs únicas obras que podem ser consideradas históricas no princípio e meados do século V a.C. provêm dos logógrafos. Conhecem-se graças ao trabalho compilador de Dionísio de Halicarnasso e de outros autores como Plutarco nos quais se encontram fragmentos das obras dos logógrafos. Neste século destaca-se entre eles Helânico de Lesbos. A sua importância observa-se também no fato de ser mencionado por Tucídides e, ainda que seja uma menção crítica, apenas a ele e a Heródoto tem a consideração de mencioná-los. Tucídides destaca que Helânico é o único que trata a história da Ática recente, embora sem exatidão cronográfica e dum modo breve demais.Helânico, que escreveu sobre a história de Atenas, foi um precursor das crônicas locais de história contemporânea, superando ademais a Heródoto em questões de cronologia. O seu trabalho foi continuado no século seguinte pelos atidógrafos. O último logógrafo conhecido foi Ferecides de Leros, que faleceu em 400 a.C., sendo mais mitógrafo que historiador. É sua a versão mais antiga que se conhece do mito de Procris.
Tucídides
Tucídides de Atenas.Tucídides nasceu por volta de 460—455 a.C. em Atenas, numa família nobre com concessões de minas. É possível que ao começar a guerra contra Esparta, Tucídides prestasse serviço na sua cidade. Em 424 a.C. foi eleito estratego e, ante uma derrota militar, foi considerado culpável, tendo de exilar-se. A sua morte aconteceu provavelmente em 398 a.C.. Essa data está em consonância com a afirmação de Marcelino (Vita, 34) de que Tucídides faleceu na cincuentena. Alguns investigadores modernos negam a sua condição de exilado, vendo-o como uma mostra da intromissão posterior de Xenofonte na obra de Tucídides.
O seu trabalho chegou à atualidade sem nome definido e dividido em oito livros, mas costuma ser conhecido como a História da Guerra do Peloponeso. A obra ficou inacabada, ao morrer Tucídides. O momento no qual se realizou a obra gerou um intenso debate historiográfico, denominado a "questão tucidídea". A discussão foca-se em duas teorias: analítica e unitária. A primeira propõe que a obra foi escrita em diversas fases, enquanto a segunda, maioritaria atualmente, expõe que toda a obra foi escrita de maneira continuada, debatendo-se então em que momento começou Tucídides a escrever a obra.
A sua obra implica um avanço ao diferenciar as causas políticas da guerra em causas "superficiais" e "verdadeiras ou a razão profunda". Adicionalmente, recusa qualquer intervenção divina, distanciando-se assim de Heródoto. Tucídides quis mostrar a guerra como inevitável sendo para ele a razão profunda o temor de Esparta ao poderio ateniense. Alguns investigadores consideram que o estudo das causas de Tucídides era ainda pouco elaborado e limitava-se a assinalar os sentimentos profundos das populações.[56] Tucídides quase não influiu nos historiadores imediatamente posteriores, mas com o passo dos séculos tornou-se num modelo e com ele começar a linguagem histórica, com a sua gíria particular, que depois imitarão historiadores romanos como Suetônio ou Tácito.
Quanto às fontes, assim como Heródoto usa principalmente fontes orais, embora também faz uso de inscrições para conhecer cifras exatas, que em caso de que não conhecesse não inventava. Ele próprio assegura fazer uma seleição crítica dos relatórios orais, aproveitando-se além disso de ter vivido muitos dos acontecimentos como testemunha direta.
Historiadores do século IV a.C.Apesar de neste século se contarem mais de um centenar de historiadores, quase não se conservaram fragmentos ou algumas citas da maioria deles. Apenas de Xenofonte foi conservada a sua obra completa, pela alta consideração que tinham os seus escritos na antiguidade, o que contrasta com o pouco reconhecimento dos investigadores atuais. Neste século teve maior sucesso a filosofia, que não prestou interesse pelos trabalhos históricos nem metodologias rigorosas. Neste contexto ficam os trabalhos históricos de Platão nos quais desdebuxa a separação entre realidade e mito, inventando até mesmo toda uma região como a Atlántida. Outros historiadores deste século são Teopompo, Éforo, Ctésias e os atidógrafos.
Xenofonte e a Helénicas de Oxirrinco
Nasceu em 431 a.C. em Atenas, no seio de uma família abastada. De entre as suas obras destaca-se a seguir da obra inacabada de Tucídides, as Helénicas. Também fez uma biografia de Ciro II da Pérsia, a Ciropédia e diversas obras sobre o processo instruído contra Sócrates. Além disso, escreveu a Anábase, na qual narra a expedição militar de Ciro, o Jovem contra Artaxerxes II. O próprio Xenofonte participou nessa expedição. A Anábase contrasta com as obras anteriores sobre a história grega ao focar-se num período curto e num personagem, o próprio Xenofonte.
As suas diferenças com Tucídides são notáveis; por exemplo, recupera as influências divinas nas Helénicas. O estilo de Xenofonte é decadente e pessimista, com muita influência retórica e pouca metodologia histórica. Embora seja considerado um historiador menor, o seu estudo é fundamental pela conservação de todas as suas obras, sendo a base de muitas teorias historiográficas sobre essa época.
Xenofonte não foi o único continuador da obra de Tucídides. Além de umas Helénicas pouco conhecidas de Teopompo, destacam-se as denominadas Helénicas de Oxirrinco. Ao longo do século XX foram-se descobrindo em Oxirrinco uns papiros que continham esta história.Segundo Lérida, a sua principal característica é a falta de estilo, mas conjuga-se com uma correta objetividade e apresentação dos fatos, que os torna uma fonte mais fiável que Xenofonte. A identidade do autor destes papiros não fica clara, embora para muitos investigadores poderia tratar-se de um tal Crátipo de Atenas. Também se pensa em Teopompo, além de outras opções menos plausíveis como Éforo de Cime, Androção, Anagímenes ou Démaco.
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