terça-feira, 17 de abril de 2012

Historiografia Grega III

Teopompo

Nascido em Quios em 380 a.C., é considerado o melhor historiador deste século. Embora se perdesse toda a sua obra, ficam muitos fragmentos copiados por outros autores. Da sua obra mais temporã, as Helênicas, apenas restam fragmentos. É uma continuação da obra de Tucídides, considerada de pouca importância e própria da maturação como autor de Teopompo. Desde os seus começos, aprecia-se a influência de Heródoto, Isócrates e Antístenes.
A sua obra mais importante são as Filípicas, conhecida pelos numerosos fragmentos em obras de outros autores. Teopompo foi o primeiro historiador que apreceu o esgotamento das teses de Tucídides e a mudança de palco pelo acesso ao poder de Filipe da Macedônia, desaparecendo a principal luta entre Esparta e Atenas. Nas suas Filípicas combina a crítica moral a Filipe pelo seu comportamento, que o levou ao seu assassinato, com louvores às suas ações políticas como defensor do pan-helenismo. Assim mesmo mostra o seu ódio pela democracia e as instituições atenienses, considerando-as culpáveis da degeneração das sociedades.

Entre o resto de historiadores destaca-se Éforo que, embora a sua obra esteja perdida, foi citado e plagiado por Diodoro e Estrabão entre outros. Escreveu uma História em trinta livros, uma história geral do mundo grego, do século XI a.C. até 340 a.C., que mereceu o elogio de Políbio como primeira história universal.A sua obra esteve muito influenciada pelos conceitos retóricos de Isócrates, do qual foi discípulo. Isto reflete-se nos seus discursos, completamente inventados.[Além disso, a sua obra tem um prejuízo patriótico que o levava a acusar Heródoto de "filobarbarismo" por contar a história de regiões alheias à Grécia.
Outros autores foram Filisto de Siracusa e Ctésias. O primeiro escreveu uma História da Sicília das origens até o final da guerra do Peloponeso, além de um estudo sobre Dionísio, o Velho e um apêndice sobre o seu filho, Dionísio II. Da sua obra apenas ficam pequenos fragmentos em citas de outros autores, tendo sido muito reconhecido na antiguidade. Pela sua vez, Ctésias escreveu Persica e Indica. Destacou-se pelas suas furibundas críticas a Heródoto, acusando-o de mentiroso, o que não impediu que o plagiasse quando escreveu sobre períodos remotos. Gostou do seu exotismo entre os seus contemporâneos, mas é alheio a qualquer metodologia histórica.
Adicionalmente, neste século destacam-se os atidógrafos, que contavam a história da Ática. Ao perder Atenas o seu poderio, renasceu um interesse pelos tempos passados que se refletiu em autores como Clidemo que escreveu Atthis em quatro livros ou Androção que publicou outra obra com o mesmo nome. A sua característica principal era um patriotismo muito tradicionalista. Finalmente, ficam os historiadores que se seguiram a Alexandre, o Grande, transmitindo o seu périplo. Esse séquito de historiadores arquivou todo o que sucedia numas Efemérides dirigidas por Eumenes de Cardia e Diodoto da Eritreia. Vários historiadores contaram a biografia de Alexandre: Calístenes de Olinto, que foi condenado à morte acusado de conjura; Ptolemeu após a sua coroação no Egito; e Aristóbulo. Estes dois últimos autores foram considerados na antiguidade como a fonte mais fiável.
Finalmente, se tem de mencionar a influência de uma filosofia em auge sobre a historiografia. A história é considerada um meio mais para mostrar a filosofia. Assim, por exemplo, o faz Platão, dividindo a história numa era anterior ao dilúvio e uma etapa poscataclismo. Deste modo pode "inventar" toda uma história do mundo anterior, do qual não ficariam provas físicas, mostrando-o como o seu modelo político. Sobre o mundo poscataclismo também faz uma história Platão, aproveitando-a para as suas motivações filosóficas, apresentando um quadro pessimista e decadente.

Período helenístico

Desde o começo deste período, a historiografia perdeu o seu caráter político, orientando-se para a superficialidade e a fição novelesca. O número de historiadores é muito alto, mas destacam-se pela sua metodologia e transcendência Políbio, Posidônio e Timeu. Além do seu é o período da "historiografia trágica", representada por exemplo por Filarco. Este tipo de historiografia é o mais representativo do momento, ao realçar-se mais o valor literário do que a historiografia em si.[78] Estes historiadores foram duramente criticados por Políbio, pois acreditava que os recursos trágicos obstruíam a procura de precisão e veracidade. Por outro lado, também se destaca pela grandeza da sua obra Diodoro Sículo, que realiza uma antologia da historiografia anterior na Bibliotheca Historica, formada por 40 livros e que trata desde o remoto universo mítico até as campanhas de Júlio César na Gália. Ao ser um resumo, a sua obra é, segundo Grant, superficial e pouco original, embora se destaque pela sua recusa à introdução de discursos no argumento.

Timeu

Era natural da Sicília mas teve de exilar-se em Atenas, permanecendo ali cerca de cinquenta anos, onde se fez a conhecer pelas suas duras críticas, sendo alcumado "Timeu o denegridor". Morreu na Sicília em 260 a.C. É considerado o historiador mais destacável dos começos do período helenístico. Escreveu uma História Siciliana de trinta e oito livros e, no final da sua vida, uma história de Pirro. A sua principal característica é o uso majoritário das fontes escritas, o que lhe valiou duras críticas de Políbio, que se tornou no seu maior crítico.Teve outros críticos como Polemão, que escreveu um Contra Timeu no século II a.C..
A obra de Timeu perdeu-se. Ainda pelas suas críticas, é conhecido graças a Políbio. Assim, na História Siciliana, primeiro havia uma introdução de cinco livros e antes da parte narrativa um livro dedicado à natureza da história. O resto do livro tratava da história siciliana propriamente dita, com alusões à Magna Grécia. Segundo Momigliano, as linhas principais da história eram a luta contra as tiranias e o conflito entre gregos e cartagineses.
Por outro lado, Timeu introduz um tema inédito na sua obra: a história de Roma. Acredita-se que, brevemente na História Siciliana e mais amplamente na sua monografia sobre Pirro, estudou as origens da incipiente civilização romana. Timeu foi o primeiro historiador a compreender a ascensão de uma nova potência. Também é destacável por ser o primeiro a estabelecer uma cronologia com o cómputo das Olimpíadas.

Políbio

Foi o primeiro historiador grego a tratar o fenômeno romano, influenciado por Timeu, com profundidade. Nasceu em 200 a.C. em Megalópolis. Pouco depois da conquista romana foi deportado a Roma junto a outros notáveis da sua cidade. Durante a sua estadia ali fez amizade com os Cipião, podendo seguir a Públio Cornélio Cipião Emiliano nas suas conquistas. Quanto ao seu trabalho historiográfico, escreveu umas Histórias em quarenta livros, das quais apenas se conservam quase completos os cinco primeiros, ficando do resto unicamente fragmentos. A sua obra trata da história do progresso romano e abrange da Primeira Guerra Púnica até 146 a.C., após a destruição de Corinto e Cartago.
A principal crítica a Políbio é o excessivo louvor da política romana. Como muito chega a ver injusta a invasão da Sardenha, ainda que o considera como algo pontual e não como uma mostra da política geral romana. Igualmente faz críticas individuais como a Marco Cláudio Marcelo, ao que acusa de pouco prudente, mas não há crítica geral como pode haver contra a política dos estados gregos. Para Momigliano isto pode ser devido a uma identificação, em parte, de Políbio com o sucesso romano, ainda que não a uma capitulação completa. Por outro lado, de Políbio é reconhecido um avanço no estudo das causas dos acontecimentos históricos. Políbio levava em conta três conceitos:
Causa: conjunto de operações mentais que predispõem a agir uma vez se tornou a abstração dos acontecimentos prévios. Pretexto: o detonante ou o imperativo ineludível que obriga a passar de imediato à ação. Començo: costuma coincidir com um acontecimento especialmente memorável.Com este esquema teórico ganham importância os indivíduos e as decisões que tomam. Em todo caso, este esquema não era totalmente sólido nem era válido em qualquer circunstância. Políbio destaca-se, além disso, pelas suas constantes alusões ao seu método e à sua escolha pela história contemporânea, justificada segundo ele pela constante renovação da matéria e pela sua utilidade.

Posidônio

Viveu entre o século II e o século I a.C. e dedicou-se a múltiplas matérias, como a geografia e a filosofia. Do seu trabalho histórico não se conserva nada, mas foi usado por muitos autores posteriores como Estrabão, Tito Lívio, Diodouro ou Apiano. Continuou a obra de Políbio narrando um período compreendido entre 135 ou o 145 a.C. e os começos da ditadura de Sula. Destaca-se nele a sua crítica à escravidão, chegando a celebrar que os cidadãos de Quios se tornassem escravos por tê-la introduzido previamente no mundo helénico.Para alguns investigadores, Posidônio cometeu o mesmo erro que Políbio ao tratar os romanos com pouca profundidade, obviando as diferenças culturais entre romanos e gregos. Também não fez críticas à política imperialista romana, mas sim é mais duro do que Políbio, criticando por exemplo a expoliação comercial.

Historiografia na época imperial

A historiografia grega não desapareceu pela dominação romana. Segundo Momigliano, foi a ascensão e consolidação do cristianismo o que levou a decadência do mundo grego e, portanto, da sua historiografia. Então surgiu um novo tipo historiográfico, a historiografia cristã. Em todo caso, outros autores, como Roussel, consideram que a historiografia grega não tinha mais que contar e o seu esgotamento era patente após demonstrar-se o poderio romano. De qualquer modo, no período compreendido entre o século I a.C. e o século V d. C. a historiografia grega manteve ainda mostras de viveza com autores como Dionísio de Halicarnasso (ainda no século I a.C.), Apiano, Dião Cássio ou Flávio Arriano. Como signo de decadência historiográfica multiplicaram-se as obras pseudohistóricas, entre cujos autores destaca-se Pausânias.

Limitações

A principal problemática da historiografia grega é a perda da maior parte das obras. Da maioria dos historiadores apenas se conservam fragmentos em outros autores, ocasionalmente sem assinalar claramente a sua origem. Perdeu-se a obra de autores como Hecateu de Mileto, Ctésias, Éforo, Teopompo e um longo et cétera. Outro tipo de limitações são as estritamente historiográficas, referentes ao uso dos historiadores gregos como fonte para os autores modernos. Grant assinala diversos problemas, entre eles: preferência pela qualidade literária sobre a historiográfica, justificação pessoal do fato no passado, influências familiares e políticas, presença de anacronismos, chovinismo ou o gosto moralizante. O mesmo autor conclui de qualquer modo que não se tem de recusar o seu uso como fonte, mas ser cautelosos com a informação que fornecem, sem deixar por isso de poder ser, assim mesmo, apreciáveis do ponto de vista artístico.
Sobre as limitações dos autores gregos, o filósofo francês Châtelet indica a sua deficiente cronologia e a recusa dos fatos objetivos quando estes não permitem restaurar uma ordem clara. Sinala, por exemplo, que em Heródoto há mais preocupação por mostrar a grandeza do que se conta que de determinar os acontecimentos de uma época determinada. O francês atribui assim mesmo as diferenças científicas entre a historiografia atual e a grega à diferente concepção do passado e da temporalidade, pois os gregos não consideravam o homem como sujeito da história, mas tinham a ideia de um "devir cósmico" prefixado.

Fonte:

BRAVO CASTAÑEDA, Gonzalo: Historia del mundo antiguo: Una introducción crítica. Alianza, Madrid, 1994. ISBN 84-206-2773-9





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