O termo tribal, quando associado às religiões africanas,oferece-nos uma chave para compreender algo essencial sobre elas.
A tribo — ou o clã, grupo de parentesco ou família extensa — forma o arcabouço para a existência diária do africano. O respeito por essa instituição é mais importante do que o respeito pelo indivíduo. O que é especial no conceito que esses africanos têm de família (ou tribo) é que ela compreende, além dos vivos, os mortos. O ancestral permanece próximo à tribo; torna-se uma espécie de espírito vivendo num mundo à parte, ou pairando sobre o lar para garantir que seus descendentes observem os costumes.
A tribo — ou o clã, grupo de parentesco ou família extensa — forma o arcabouço para a existência diária do africano. O respeito por essa instituição é mais importante do que o respeito pelo indivíduo. O que é especial no conceito que esses africanos têm de família (ou tribo) é que ela compreende, além dos vivos, os mortos. O ancestral permanece próximo à tribo; torna-se uma espécie de espírito vivendo num mundo à parte, ou pairando sobre o lar para garantir que seus descendentes observem os costumes.
O costume, ou a organização da sociedade, ou ainda a "constituição", para usar um nome mais moderno, foi estabelecido quando a tribo passou a existir, numa época que os mitos chamam de "o princípio dos tempos".
O dever dos vivos é assegurar a preservação dessa organização, o que se consegue obedecendo cuidadosamente a todas as regras e, acima de tudo, fazendo sacrifícios aos espíritos dos ancestrais. Entretanto, a família não consiste apenas nos vivos e nos mortos, mas também nos ainda não nascidos, nos descendentes. E dever do indivíduo dar continuidade à família. Um dos piores infortúnios pessoais é morrer sem deixar filhos. Quando uma família se extingue, a conexão dos espíritos ancestrais com a Terra é cortada, pois não sobra ninguém para manter contato com eles. Assim, se um homem tem mais de uma esposa e gera muitos filhos, sua alma fica em paz. Ele sabe que depois da morte sua alma não será forçada a vagar pelo espaço vazio, desconectada da Terra, pois estará sempre ligada a alguém. Uma das tarefas mais importantes do homem é tomar conta do território que foi outorgado à tribo por seus pais fundadores, terra que, por sua vez, será passada aos descendentes dele. Em outras palavras, não há propriedade privada da terra e ela não pode ser vendida aos pedaços.
DEUSES E ESPÍRITOS
Baseando-se nos mitos, que nunca eram escritos, mas passados oralmente de geração em geração, os estudiosos já tentaram descobrir o que caracteriza a crença divina dos africanos. Na maioria das tribos existe a crença num deus supremo, embora este receba muitos nomes. Normalmente associado ao céu, é
ele que concede a fertilidade, e em alguns mitos é representado ao lado da deusa associada à terra.
Foi esse deus supremo que criou todas as coisas vivas, os animais e o ser humano. Foi ele ainda o responsável pelos decretos que regulam a sociedade, pelos costumes a que a tribo tem o dever de obedecer. Com freqüência ele é também o deus do destino, que governa a vida dos seres humanos e controla a boa ou má fortuna da tribo.
As vezes, esse ser supremo é chamado de "deus em repouso",por estar remotamente afastado da vida cotidiana. Certos mitos relatam que havia um contato íntimo entre o deus e o homem no início dos tempos, quando tudo era bom; só que houve um desentendimento e o deus se afastou. É apenas em circunstâncias excepcionais, quando as pessoas estão passando por graves necessidades, que elas recorrem ao deus supremo. De modo geral, não precisam perturbá-lo, preferindo se voltar para deuses e espíritos menores.
Esses outros deuses, forças e espíritos se encontram nas florestas, nas planícies e nas montanhas, nos rios e nos lagos. São intimamente associados a fenômenos naturais distintos: o raio e o trovão, as grandes cachoeiras, uma primavera quente, alguma árvore enorme ou uma rocha com formato estranho. A religião ganda, praticada pelo povo Baganda, de Uganda, tem um deus supremo chamado Katonda, porém o culto mais importante se dirige a uma constelação de divindades menores. Uma delas é o deus da água, Mukasa, o qual governa a fertilidade e a saúde. Há ainda o deus da guerra, Kibuka, que no passado exigia sacrifícios humanos. Também é costumeiro tratar os espíritos dos mortos com respeito; o culto aos antepassados é um dos aspectos mais típicos da religião africana. Leia o Texto completo
Fonte:
Trecho do Livro: Jostein Gaarder, O Livro das Religiões São Paulo:
Companhia das Letras, 2000.
Companhia das Letras, 2000.
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