Na longa carreira do filósofo e crítico, essa obra situa-se em um momento peculiar. Mais conhecido pelos trabalhos de crítica literária nas décadas de 70 e 80, o professor de Literatura Inglesa da Universidade de Oxford posiciona-se, a partir da década de 90, como um "crítico da cultura". Na análise e teoria literária preocupou-se em demarcar sua posição dentro da tradição marxista. Isso fica expresso no livro Teoria literária: uma introdução (1983), no qual faz um estudo da literatura dos séculos XIX e XX e traça paralelos com o estruturalismo, o pensamento lacaniano e mostra afinidades com a desconstrução. A partir de As ilusões do pós-modernismo (1996), mesmo sem perder de vista "as virtudes da educação literária", ele se volta para a cultura. Nesse livro produz uma crítica teórica e política da contemporaneidade e mostra as origens e a emergência da pós-modernidade. Denuncia as ilusões que o "movimento" conseguiu derrubar, suas ambivalências e contradições internas. De algum modo, A idéia de cultura é uma retomada dessa discussão, visto que o livro de 1996 foi uma compilação de artigos publicados ao longo da década de 90.
Antes de adentrarmos nas especificidades dos capítulos, é importante analisar alguns elementos pré-textuais. Por exemplo, a dedicatória autoconsciente para Edward Said. Como uma pista, no sentido mais dialógico de uma referência, o nome do amigo e professor anuncia questões ligadas ao imperialismo, à colonização e às relações contraditórias entre Norte e Sul. Partindo da idéia de que as culturas são híbridas, Eagleton retoma a idéia de Said em Cultura e Imperialismo de que as culturas "estão envolvidas umas com as outras" e que "nenhuma delas é mais heterogênea que o capitalismo" (p. 28-29). Sintomática também é a data de lançamento da obra: o ano 2000. O tom revisional coaduna com um momento limiar: a passagem do milênio. Circunstância sugestiva para a análise e revisão das transformações do século XX e, por extensão, da idéia de cultura e seu futuro. A organização de seu pensamento perpassa as lições do "orientalista": a cultura como campo de batalha está nas "versões", na "crise" e nas "guerras culturais". Depois, o autor extrapola essas questões e aprofunda-se filosoficamente ao discutir cultura e natureza e a direção de uma "cultura comum". A atualidade dessa análise confirma que o tema ganhou importantes dimensões políticas diante dos eternos velhos problemas vividos pela humanidade.
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